Continuação do Artigo anterior (...)
2. Itália
Um estudo conduzido por pesquisadores da Tecsa SRL (empresa de consultoria especializada), da Politécnica de Torino e a Brigada Nacional de Combate ao Incêndio da Itália apresentou uma avaliação do risco de incêndio de instalações fotovoltaicas [23].
Merece destaque o abstract do artigo que constata o seguinte:
“As usinas fotovoltaicas conheceram um aumento acentuado no número e na potência instalada na última década em todo o mundo. Juntamente com este crescimento, também os riscos associados aumentaram significativamente. Dentre estes, o risco de incêndio chamou a atenção de ambas as Autoridades, gerentes de usinas e quaisquer outras partes interessadas (como os proprietários da propriedade) devido ao alto número de incêndios envolvendo usinas solares”.
A
Figura 6 mostra a quantidade de incêndios relacionados a usinas fotovoltaicas
na Itália no período de 2003 a 2014 (11 anos).
Figura
6 – Incêndios relacionados a usinas fotovoltaicas na Itália. Fonte: Italian
National Fire Corp, Statistical Service [23].
“Os dados disponíveis sobre incêndios em usinas fotovoltaicas incluem uma grande variedade de episódios de incêndio, incluindo incêndios em caixas de conexão, incêndios envolvendo apenas alguns módulos fotovoltaicos e grandes incêndios (a maioria) ocorridos em usinas localizadas no telhado do edifício, que se espalharam para dentro através das claraboias no telhado” [23].
O estudo apresenta algumas causas raízes para, em seguida, afirmar que um dos efeitos finais desses fenômenos está associado a um arco CC.
É interessante fazer um comparativo com o mercado brasileiro, o qual se iniciou efetivamente após a publicação da Resolução Normativa Nº482 de 17 de abril de 2012. Ao fazer um paralelo com do mercado brasileiro com o mercado italiano, onde em 2012 foram registrados quase 800 casos, é possível afirmar que se não forem adotadas ações regulatórias ou normativas no sentido de mitigar riscos de incêndios em edificações com sistemas fotovoltaicos, estaremos arriscando repetir o mesmo cenário de aumento exponencial de casos de incêndio relacionados a usinas fotovoltaicas.
No
caso da Itália o número de casos de incêndios só começou a diminuir após a
publicação e aplicação de duas diretrizes:
Fire Safety of Photovoltaic Systems, Province of Trento, 2011 e
Guidelines for PV plant Installation, Dipartimento dei vigili del fuoco,
Dipartimento del soccorso pubblico della difesa civile, 2012 Edition.
2. 3. Alemanha
Um amplo estudo sobre perigos de incêndios em sistemas FV [24], conduzido por pesquisadores do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar, TÜV Rheinland Energia e Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros de Munique e Universidade de Berna para Ciencias Aplicadas, foi publicado e apresentado na EU PVSEC, que é a maior conferência internacional de pesquisa, tecnologias e aplicações fotovoltaicas. Os casos estudados fazem parte de uma base de dados que compreende o período de 1995 a 2012 (17 anos) e foram limitados ao território alemão. De um total de 400 incidentes, 180 casos (45%) foram provocados pelo sistema fotovoltaico.
Neste
estudo, o qual é bem mais amplo e detalhado que o do Reino Unido e Itália,
chama a atenção a quantidade de casos
onde o inversor foi o responsável pelo início do incêndio, conforme pode
ser visto na Figura 7 a seguir:
Figura
7 - Contagens de componentes onde o incêndio começou [24].
Reiteramos
que os componentes por si só não geram um arco elétrico e, sim, os níveis de
tensão CC aos quais estes componentes estão submetidos. Convém deixar
registrado que, a partir da página 3 de [24] o estudo aponta diversas vezes o
arco elétrico como o risco fundamental, conforme Figura 8 a seguir:
Figura
8 - Arco elétrico sendo apontado como risco fundamental em [24].
Por fim, o estudo afirma que “em aplicações críticas, o emprego de detectores de arco deve ser considerado para reduzir o risco de incêndio” [24].
Entendemos
como aplicações críticas justamente os locais onde não existem pessoas
qualificadas e treinadas para lidar com os riscos do arco elétrico, por
exemplo, instalações em residências.
3. 4. Brasil
O
problema do arco elétrico vem tomando grandes proporções no Brasil. Já foram
registrados vários casos de incêndios ocorridos por causa do arco elétrico.
Seguem algumas imagens de algumas instalações no Brasil onde o arco elétrico
provocou um incêndio:
Figura
9 – Incêndio provocado por arco elétrico no circuito de corrente contínua com
inversor FV.
Figura
10 – Incêndio provocado por arco elétrico no circuito de corrente contínua com
inversor FV.
Figura
11 – Incêndio provocado por arco elétrico no circuito de corrente contínua com
inversor FV.
Figura
12 – Incêndio ocorrido por arco elétrico no circuito de corrente contínua com
inversor FV.
Figura
13 – Incêndio ocorrido por arco elétrico no circuito de corrente contínua com
inversor FV.
Figura
14 – Incêndio ocorrido por arco elétrico nos condutores de corrente contínua
com inversor FV.
Figura 15 – Incêndio ocorrido por arco elétrico nos condutores de corrente contínua com inversor FV.
Alguns
destes casos possuem vídeos da ocorrência, os quais foram obtidos através de
grupos de discussão na web.
Discussão
Mais de 50% do market share de inversores vendidos no Brasil são de marcas que também comercializam em mercados que obrigam tanto o AFCI quanto o Rapid Shutdown, portanto, possuem domínio dessas tecnologias. Contudo, algumas dessas marcas optam por trazer versões mais simples e consequentemente menos seguras para o mercado Brasileiro, exatamente por não haver a obrigatoriedade desses dispositivos.
O consumidor final normalmente desconhece os riscos associados às instalações fotovoltaicas. Somado a isso, muitos instaladores no Brasil desconhecem os riscos por possuírem baixo nível de qualificação técnica. Por este motivo, é fundamental que os equipamentos fotovoltaicos possuam proteções internas que possam detectar eventuais falhas nas instalações que causam consequências gravíssimas, como perdas de vida por choque elétrico ou incêndio.
As
normas ABNT NBR 5410 e 16690 estão em processo de revisão. Há também a
expectativa de mudanças na NBR 5410 que estabelecerá, em um primeiro momento, a
recomendação do uso de dispositivos de detecção e interrupção de arco elétrico
(AFCI) nas instalações elétricas de baixa tensão. Consequentemente, o AFCI
também deverá ser discutido na revisão da NBR 16690 nas instalações de sistemas
fotovoltaicos.
Conclusão
O assunto “detecção e interrupção de arco elétrico” é de extrema importância por se tratar de uma solução para atender às necessidades de segurança do mercado FV, tendo atingido maturidade suficiente para sua aplicabilidade.
Os arcos elétricos são um problema grave que ocorre em sistemas fotovoltaicos. Podem ser encontradas tensões em telhados de 600 volts, 800 volts e podendo chegar até 1.500 volts em corrente contínua. Ao trabalhar com esses níveis de tensão, o risco de arco elétrico sempre existirá.
Portanto, vimos que o risco de arcos elétricos e, consequentemente, mortes, ferimentos, perdas e danos de patrimônios é uma preocupação séria. Existem países que adotam o AFCI como obrigatório e vimos pesquisadores de importantes instituições recomendando a aplicação de detectores de arco para reduzir o risco de incêndio.
É possível comprar inversores com o circuito AFCI integrado, como por exemplo, os inversores da Huawei que possuem o AFCI integrado em seus inversores de string. Outra opção é utilizar tecnologias como a dos microinversores APsystems que, por trabalharem com extra-baixa tensão, naturalmente dispensam o AFCI. Esta é mais uma das considerações que todo bom projetista de sistemas fotovoltaicos deve ser levar em conta na seleção do inversor e na tecnologia de sistemas fotovoltaicos.
Referências
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Tolerance”, Alemanha, Springer Berlin Heidelberg, 2006.
[3] Prysmian Cables & Systems, “Manual
Prysmian de Instalações Elétricas”, 2010.
[4] Shiva Gorjian, Ashish Shukla, “Photovoltaic
Solar Energy Conversion - Technologies, Applications and Environmental
Impacts”, Academic Press, 2020.
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Applications”, John Wiley & Sons, 2017.
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Madhuvanthani Rajendran, “Power Electronic Converters for Solar Photovoltaic
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[10] Regulation and Supervision Bureau for the
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“Installation of Solar PV Systems Guidance Document”, www.rsb.gov.ae., Publication No. EP/P04/101, January,
2017.
[11] International Electrotechnical Commission,
IEC 62109-2:2011 - Safety of Power Converters for Use in Photovoltaic Power
Systems - Part 2: Particular Requirements for Inverters.
[12] 2014 National Electrical Code, ANSI/NFPA70,
Published by the National Fire Protection Association, Quincy, MA, 2014.
[13] 2011 National Electrical Code, ANSI/NFPA70,
Published by the National Fire Protection Association, Quincy, MA, 2011.
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2018.
[15] International Electrotechnical Commission,
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[18] NBR 5410
[19] Roger Messenger, Amir Abtahi, “Photovoltaic
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[21] Electrical Safety Foundation International,
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[23] Fiorentini L., Marmo L., Danzi E., Puccia V.,
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risk assessment for reconstruction and permitting purposes”, Chemical Engineering
Transactions, 48, 427-432.
[24] H. Laukamp et al. “PV Fire Hazard – Analysis
and Assessment of Fire Incidents”, 28th EU PVSEC 2013, Paris.
Neste artigo falaremos um pouco sobre o histórico e o cenário atual da segurança contra...
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